
Parte III - Visão
De todas as histórias que contei aqui, talvez a mais incrível seja a desse Fenômeno. O sentido da pessoa é tão aguçado que chega a assustar. É comum a gente chegar aos lugares e a galera já começar a pedir pra ela fazer o reconhecimento no local pra ver se há um conhecido ou é claro, um Grande dando sopa.
O problema é que a pobre sempre vê alguma coisa, e na maioria das vezes, algo que, pra ela, não seria muito bom. Depois de analisar algumas das piores, e até engraçadas, enrascadas dessa “olhuda” de plantão, resolvi relatar algumas. Tenho certeza que depois de ler, vocês logo poderão identificar a nossa amiga Thundercats (olho de thundera).
Estávamos reunidos no República, bar que na época era novo, então bombava. Conseguimos uma mesa por que uns amigos das Fenômenos (os tais Amigos do Churras, já citados no blog) chegaram cedo e bebiam feito loucos. Naquela altura da noite, numa mesa de boteco, todos solteiros, as conversas eram as mais animadas possíveis e um dos amigos estava comemorando a quitação das dívidas, já se endividando (se pensarmos na quantidade de bebida que a galera pedia e botava na conta dele).
Como era uma quantidade razoável de pessoas, juntamos algumas mesas e intercalamos as turmas para rolar uma interação. Visão (vamos chamá-la assim), estava engatada numa conversa, até animada, com um dos amigos, quando olhou para a rua e reparou num carro que passava em frente ao Marujo (bar da frente). O carro passou rápido e a mesma velocidade foi a que nossa amiga se levantou e saiu correndo. Isso mesmo! Ela levantou e saiu na direção do carro que subia a rua, no sentido de quem vai fazer o balão e descer.
A tonta saiu derrubando as cadeiras das outras mesas, e sequer ouviu os berros da galera, e principalmente, do coitado que ela deixou falando com as paredes.Ficamos atônitos, sem saber o que tinha acontecido e preocupados também, afinal a louca não falou uma palavra, simplesmente levantou e saiu.
Os rapazes começaram a perguntar o que estava acontecendo e Olfato (vocês vão conhecer a história no próximo post) saiu atrás da amiga, que nessa altura andava como um zumbi, olhando para os carros que passavam, como se pudesse entrar nos veículos. Ela só parou porque Olfato deu um berro, vendo que ela quase esbarra no caminhão de lixo parado no estacionamento.
- Você está louca? O que está acontecendo?
-Eu vi o Grande! Tenho certeza que era ele.
-Pessoa, ele não te disse que estaria viajando essa semana?
-Pois é! Mas ele mente que não sente.
-Quer ver se era mesmo ele?
Olfato nem terminou a frase e a amiga agarrou o braço dela e a arrastou até o container de lixo mais próximo. Quase morri de rir ouvindo isso depois. Fiquei imaginando as duas, arrumadas, lindas, agachadas perto daquela imundice toda. Mas.... Era mesmo o filho da puta!
A doida sugeriu que elas andassem na rua como se não tivessem visto, pra notar a reação do mentiroso. Olfato assentiu, mas estava preocupada com a amiga, que tremia mais que vara verde. Quando deram de cara, ele não sabia o que fazer. Ficou rosa, branco, amarelo e como todo cafajeste que se preze, jogou uma mega desculpa pra cima de nossa amiga repolho. Olfato fingiu que ia atrás de uma amiga e desapareceu.
Eu continuava sentado com a galera, e todo mundo preocupado, especulava as causas daquele barraco todo. Eis, que me aparece Olfato, branca como um papel, fazendo gestos de que Visão tinha encontrado o Grande. Logo atrás vem o casal. Ele todo desconcertado inventou que tinha ido encontrar uns amigos e foi para o outro lado do bar.
Nossa amiga ficou arrasada. Pensei que não fosse agüentar e sugeri que fôssemos embora. As outras, gritavam aos quatro ventos que ele era um filho da puta, um pintor de rodapé (sim, ele é baixinho), que não prestava, essas coisas que a mulherada faz para aumentar o ego da amiga, mas só faz a cena parecer mais ridícula e a amiga se sentir mais humilhada. Os caras, sem entender bem o que estava acontecendo, só perguntavam quem era o cidadão, se ela queria que eles fossem lá dar um jeito nele. Mas o fato é que ninguém sabia como ajudá-la naquele momento.
Pra piorar, o infeliz ficava andando de um lado pro outro no bar, falando ao celular, e ainda olhava pra nossa amiga e sorria, com aquela cara de quem sabe que ela é seu repolho. Eu percebi que isso consumia Visão por dentro e já ia chamar todo mundo para ir embora, quando um rapaz chegou ao bar acompanhado de mais dois amigos.
A mulherada quase teve um troço! Num instante pararam de berrar e ficaram olhando pra ele e cutucando nossa amiga, que confusa com seus sentimentos, nem deu muita bola. E não é que o cara depois de um tempo começou a olhar pra ela?
A tonta perdida por causa do “toco de amarrar jegue”, não olhava pro cara, até que perdi a paciência:
-Sim, pessoa! Você usa essa porra dessa visão pra ver tanta coisa. Não é possível que não notou que aquele cara está te comendo com os olhos! Quer ser repolho pro resto da vida?
O fato é que Deus deu uma forcinha para os Fenômenos nesse dia. Nossa amiga conseguiu se vingar do Grande e em grande estilo. Pouco tempo depois de o cara ter se apresentado e sentado na nossa mesa, o Grande foi embora. O que mais me surpreendeu foi a força que Visão teve nesse dia, pois quem a conhece, sabe que ela pode ser a mais sensível dos Fenômenos.
Tudo bem que semanas depois estávamos nós, passando em baixo do prédio do Grande, e ouvindo nossa amiga chorar por que estava vendo a “garrafinha de água” dele na janela.
Olha... ainda bem que essa fase já passou! Mas o desfecho, até então sadio, e a volta por cima de Visão em cima do seu Grande, eu deixo para ela contar.