segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Deu a louca nos velhinhos


Eu já contei por aqui algumas proezas acontecidas no prédio onde moro, mas quando a gente acha que já viu (e ouviu) tudo, sempre aparece alguém para provar o contrário. Na sexta-feira, eu estava chegando com minha mãe do Extra e, enquanto estacionava o carro, minha mãe decidiu descer para ir atrás do carrinho de compras do prédio. Fiquei esperando por uns cinco minutos e nada de mamãe aparecer. Achei que a espertinha tinha subido e me largado com todo o carregamento lá embaixo (ela odeeeeia subir com compras).

Parti em sua busca e a encontrei conversando, ou melhor, ouvindo uma senhora que sempre está embaixo do bloco com o cachorrinho. Já cheguei de péssimo humor, levantei a sobrancelha para a senhora e puxei minha mãe pelo braço, usando a desculpa de que já tinha gente esperando pelo carrinho. Estranhei porque, geralmente, quando sou meio grossa com o povo do prédio, minha mãe me paga um mega-super-hiper-plus sapo, mas ela ficou calada. Colocamos as sacolas no carro e partimos pro elevador. Achei a D. Verônica muito esquisita, resolvi perguntar:

– Mãe, o que houve? Não vai me dizer que está com essa cara só porque eu cortei o seu papo com a dona lá debaixo, né? De certo eu ia ficar no sol, torrando, até você terminar de ouvir as fofocas do prédio.
– Eu achei foi bom! Fiquei foi impressionada com o que ela me disse.
– Conta aí, mãe! (Eu já sabia que era fofoca e que ela não ia querer me contar).
– Não, Ana Paula! Você vai contar pro seu pai.
– Anda logo, mãe!
(Insisti por mais uns cinco minutos)
– Tá bom! Aquela senhora veio me contar que existem algumas “normas” que devem ser seguidas aqui no bloco. Acho que ela é daquelas que se mete na vida de todo mundo!
– Normas? Tipo, a coleta de lixo e o som alto?
– Não! Segundo a mulher, aqui no bloco TODO mundo reclama das pessoas que andam de salto alto. Ela me disse que todas as moças devem (repara no tempo do verbo) tirar os sapatos antes de entrar em casa.
– Hahahahaha! Certeza que vou fazer isso, mãe!
– E tem mais. Ela disse que para ouvir música a gente tem que levar o som pro banheiro, fechar a janela do banheiro e abrir a porta. Assim o som não incomoda os outros!
– Hahahahahahahahahahahahaha!
– E que todo mundo precisa ter cuidado com o tom de voz. Não pode atender o telefone em voz alta, nem discutir.
– Mãe, eu não estou entendendo. A velha tá dizendo como a gente deve se comportar dentro de casa? Quer dizer que ela é dona do prédio e está nos fazendo um favor deixando que a gente more aqui? (Meu pai ia adorar saber disso)
– Ela se acha a dona mesmo, já que foi uma das primeiras a morar aqui. Parece que ela e mais dois senhores, entre eles o síndico, estabeleceram que ELES irão ficar na portaria durante o dia. Mandaram os porteiros embora.
– Como assim, mãe? Ficou decidido por quem?
– Eles decidiram! Não sei se foi na reunião de condomínio.
– Que bando de gente doida, mãe! Eu quero que essa maluca venha me dizer como que eu tenho que viver dentro da minha própria casa. Ai,ai!
– E tem mais... Ela veio me contar que ficou horrorizada com uma família que chegou agora no prédio e estava brigando.
– Ah, o casal estava brigando lá embaixo?
– Não, eles estavam brigando na casa deles e a senhora ouviu tudo.
– Ah, tá! Ouvir música não pode, mas ouvir a briga do vizinho já está valendo?

Nesse momento, eu ouço meu pai chegar em casa. Detalhe, ele sai do elevador assobiando, cheio de sacolas, deixa a pasta cair no chão, solta um palavrão, aperta a campainha e ainda briga porque a gente demorou para abrir a porta. Quem conhece a figura, sabe que a voz dele é tão forte, tão alta que dá para ser ouvida longe, imagine o comentário que ele fez depois que eu compartilhei toda a história, enquanto ele se vestia pra caminhada diária:

– Manda essa velha se fuder enquanto está de dia! Quer dizer que não posso falar mais nada em minha própria casa? E essa porra de bloco que está caindo aos pedaços? E aqueles moleques destruindo tudo? E esse bando de porco que desce com os cachorros pelo elevador e sujam tudo? Deixa ela vir falar comigo, deixa!

Domingo à noite, toca a campainha aqui de casa. Meu pai abre a porta e dá de cara com o velhinho cúmplice da senhora do cachorro. Educadamente, meu pai convida o moço para entrar:
– Boa noite! Queira entrar, por favor. (A voz do meu pai parece que faz tremer as estruturas da casa)
– Boa noite, sr. Paulo! Nós estamos correndo com um abaixo-assinado no prédio e eu gostaria de contar com o apoio do senhor e da sua esposa.
– Abaixo-assinado para? (Só para registrar, meu pai odeia abaixo-assinado!)
– Como o senhor já deve saber, seus novos vizinhos mudaram para o prédio não faz uma semana e DESCOBRIMOS que o rapaz saiu do outro prédio que morava meio que expulso, então, a gente vai entrar com um pedido no Ministério da Defesa* para que retirem essa família daqui. Uma senhora ouviu tudo e disse que foi um horror. Ficou morrendo de medo! Sua esposa deve ter escutado, tenho certeza!
– Não, meu amigo, ela não ouviu! Minha mulher não tem tempo pra ficar ouvindo o que os outros fazem na casa deles. Eu não posso assinar algo que não sei do que se trata. Além do mais, eu não conheço essa família, eles não me fizeram nada e nem prejudicaram ninguém aqui no prédio. Não vou assinar isso!

Quando a porta se fechou, eu olhei para a cara do meu pai e ele me disse:

– É, minha filha, deu a louca nos velhinhos. Pode esperar que isso ainda vai dar pano pra manga!!!

* Uma parte dos apartamentos do prédio onde moro ainda são funcionais.

4 comentários:

Anônimo disse...

Tô achando que o velhinho escutou tudo depois que saiu do apartamento, né? Deve ter escutado seu pai dizendo que ele é louco!! uhahuahuahuahuauha!

Muito bom!!

Beijos.

VascoIJ0neZ! disse...

Cocoon neles!

Anônimo disse...

Nina, concordo com a norma do salto alto kkkkkkkkkkkk
Isso devia virar é lei, tirar o salto antes de entrar no apê... a vizinha de cima acorda as seis da manhã e acho que ela faz cooper dentro do apto com salto alto, só pode, não existe barulho mais chato que aquele "toc-toc-toc", só murissoka pra barrar uauauauaua
KKKK

Antonio Ximenes disse...

Pessoas.

Sinto uma especial afinidade com o post de hoje.

Eu e minha Lady Pitoresco... moramos em um aPERTAmento em um condomínio que despeja essas regras absurdas em folhetins diários presos em um pequeno flanelógrafo no elevador.

Vivemos sob os olhares de um monte de velhinhos e casais religiosos que não gostam da idéia de terem um casal como nós... (marido blogueiro que curte andar de ônibus ouvindo MP3... e mulher linda que não está nem ai para fofocas com as outras condôminas)

Devia existir uma regra só... "se preocupar com a própria vida"... rs.

Abração.