sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Jogo da Verdade

Eis o texto do outro vencedor...





Laura deitou o Colt 38 sobre a mesa e o fez girar como um pião. Enquanto a arma rodopiava no tampo de madeira, os olhos bêbados de Alfredo, Marcelo e Joana evitavam fitar o cano longo e prateado. Eles tomavam a segunda garrafa de uísque, quando Laura entrou na sala com o revólver do avô. Foi idéia dela pôr uma bala no tambor e brincar de jogo da verdade usando o velho três-oitão como ponteiro. O Colt 38 terminou de dar voltas, e Laura sentenciou:
– Você responde, Alfredo. A pergunta é simples: você me ama ou não?

O quarteto se conhecia desde a faculdade. Laura e Alfredo haviam ficado juntos algumas vezes. Marcelo e Joana, também. Mas sobre o relacionamento dos quatro pairava uma névoa de incertezas. Alfredo, o mais velho da turma, sorriu e respondeu com a objetividade que lhe era peculiar:
– Amo, Laura. Como nunca amei ninguém.

Ela tomou a arma, girou o tambor, enfiou o cano prateado entre os dentes, esperou um segundo e... Click.
– Acredito em você.

Uma brisa de alívio assanhou-lhe os cabelos castanhos. Laura passou o revólver a Marcelo, que não demorou a corrupiá-lo sobre a mesa. O ferro arranhava a madeira e produzia um ronronar grave e angustiante. O cano descreveu a última volta e apontou insolente para Laura – como para o Norte de uma bússola imaginária. Marcelo esfregou as palmas das mãos antes de perguntar com desembaraço:
– Laura, sei que você sai com o Alfredo de vez em quando. Mas fala a verdade: é de mim que você gosta, não é?


Ela ficou desconcertada. Estalou os polegares e tomou um profundo gole de uísque. Com a voz indisfarçavelmente ríspida, crispou as sobrancelhas grossas e cravou dois olhos de fúria em Marcelo.
– É, seu babaca! É verdade, sim! Mas, que eu saiba, você está ficando com a Joana! E não vou trair minha amiga! Joana, você sabia que esse idiota me chama para sair depois de deixar você em casa?

O mal-estar tomou conta da sala. Marcelo não esperou mais: virou o trabuco contra a própria cabeça e sem delongas apertou o gatilho. O click seco ecoou outra vez. Agitada e confusa, Joana arrancou-lhe a arma das mãos. Rodopiou com força o ponteiro, que – por um desses acasos que parecem só acontecer na ficção – indicou Marcelo.
– É verdade isso? Você sai comigo e liga para ela depois? Mas você disse que queria namorar sério comigo!
– Calma, meu amor. É brincadeira da Laura. Você não sabe que ela inventa umas histórias? Eu penso em namorar você, sim! Baixa esse revólver! Vamos conversar...

Joana meteu o cano debaixo do queixo. Ameaçou atirar. Mas tinha as mãos trêmulas e desistiu. Num espasmo, mirou para a testa de Marcelo. Ele fechou os olhos e esperou que ela pressionasse o gatilho: click de novo. Esboçaram levantar-se da mesa. Acabar de vez com aquela brincadeira estúpida. Estavam bêbados, mas não eram loucos afinal de contas. Foram detidos pela voz de Alfredo, que recolheu o Colt 38 das mãos de Joana.
– Agora é minha vez.

Os outros se entreolharam. Ele conduziu a arma lentamente sobre o tampo da mesa, passando diante de todos os jogadores até fazê-lo apontar para Laura. Soltou um longo suspiro e pronunciou com voz serena:
– Então é assim, Laura? Você fica comigo, mas gosta do Marcelo. Ele gosta de você, mas fica com a Joana. E eu? Você não me leva a sério? Não me ama mesmo?

Ela engoliu a seco. Enxugou o suor embaixo do nariz e sussurrou, sem conseguir evitar o sorriso quase nervoso que lhe fugia dos lábios:
– Amo. Como nunca amei ninguém.

O revólver prateado inebriava os olhos de Alfredo. Ele ergueu as vistas em direção a Laura e sorriu. Girou o tambor do Colt 38 com a ponta dos dedos e disse com a objetividade que lhe era peculiar:
– Não acredito em você.

Lá fora, o estampido do tiro rasgou a noite árida de Brasília.
Blogueiro Fenômeno - Dante Accioly
Blog - Página em Construção

5 comentários:

Aryana Penno disse...

Uh!
Nem sabia desse desafio, andei (muito) desanimada dessa vida de internet e de blog... Huahauhauuha

Mas estou de volta!
E parabéns pela iniciativa do desafio! Os dois textos postados até agora são muito bons!
Esse ai então, muito legal.

Beijuuus

Anônimo disse...

Muiiito bom!
Tadinho do alfredo!

bjos

Anônimo disse...

Muito bom messsssmo!!!! o texto vai deixando a gente agoniado! adorei!!!!

dante escreve uma barbaridade!!!


bjs, pessoas

Dante Accioly disse...

Hello, Fenômenos!!!!! Eu tava numa ansiedade só! Que bom que vocês gostaram do texto! Muito massa a iniciativa de vocês! Um beijo grande e até os próximos desafios!!!!!!!

Anônimo disse...

cruel
outstanding
o maximo