Eis o texto do outro vencedor...
Laura deitou o Colt 38 sobre a mesa e o fez girar como um pião. Enquanto a arma rodopiava no tampo de madeira, os olhos bêbados de Alfredo, Marcelo e Joana evitavam fitar o cano longo e prateado. Eles tomavam a segunda garrafa de uísque, quando Laura entrou na sala com o revólver do avô. Foi idéia dela pôr uma bala no tambor e brincar de jogo da verdade usando o velho três-oitão como ponteiro. O Colt 38 terminou de dar voltas, e Laura sentenciou:
– Você responde, Alfredo. A pergunta é simples: você me ama ou não?
– Você responde, Alfredo. A pergunta é simples: você me ama ou não?
O quarteto se conhecia desde a faculdade. Laura e Alfredo haviam ficado juntos algumas vezes. Marcelo e Joana, também. Mas sobre o relacionamento dos quatro pairava uma névoa de incertezas. Alfredo, o mais velho da turma, sorriu e respondeu com a objetividade que lhe era peculiar:
– Amo, Laura. Como nunca amei ninguém.
Ela tomou a arma, girou o tambor, enfiou o cano prateado entre os dentes, esperou um segundo e... Click.
– Acredito em você.
Uma brisa de alívio assanhou-lhe os cabelos castanhos. Laura passou o revólver a Marcelo, que não demorou a corrupiá-lo sobre a mesa. O ferro arranhava a madeira e produzia um ronronar grave e angustiante. O cano descreveu a última volta e apontou insolente para Laura – como para o Norte de uma bússola imaginária. Marcelo esfregou as palmas das mãos antes de perguntar com desembaraço:
– Laura, sei que você sai com o Alfredo de vez em quando. Mas fala a verdade: é de mim que você gosta, não é?
Ela ficou desconcertada. Estalou os polegares e tomou um profundo gole de uísque. Com a voz indisfarçavelmente ríspida, crispou as sobrancelhas grossas e cravou dois olhos de fúria em Marcelo.
– É, seu babaca! É verdade, sim! Mas, que eu saiba, você está ficando com a Joana! E não vou trair minha amiga! Joana, você sabia que esse idiota me chama para sair depois de deixar você em casa?
O mal-estar tomou conta da sala. Marcelo não esperou mais: virou o trabuco contra a própria cabeça e sem delongas apertou o gatilho. O click seco ecoou outra vez. Agitada e confusa, Joana arrancou-lhe a arma das mãos. Rodopiou com força o ponteiro, que – por um desses acasos que parecem só acontecer na ficção – indicou Marcelo.
– É verdade isso? Você sai comigo e liga para ela depois? Mas você disse que queria namorar sério comigo!
– Calma, meu amor. É brincadeira da Laura. Você não sabe que ela inventa umas histórias? Eu penso em namorar você, sim! Baixa esse revólver! Vamos conversar...
Joana meteu o cano debaixo do queixo. Ameaçou atirar. Mas tinha as mãos trêmulas e desistiu. Num espasmo, mirou para a testa de Marcelo. Ele fechou os olhos e esperou que ela pressionasse o gatilho: click de novo. Esboçaram levantar-se da mesa. Acabar de vez com aquela brincadeira estúpida. Estavam bêbados, mas não eram loucos afinal de contas. Foram detidos pela voz de Alfredo, que recolheu o Colt 38 das mãos de Joana.
– Agora é minha vez.
Os outros se entreolharam. Ele conduziu a arma lentamente sobre o tampo da mesa, passando diante de todos os jogadores até fazê-lo apontar para Laura. Soltou um longo suspiro e pronunciou com voz serena:
– Então é assim, Laura? Você fica comigo, mas gosta do Marcelo. Ele gosta de você, mas fica com a Joana. E eu? Você não me leva a sério? Não me ama mesmo?
Ela engoliu a seco. Enxugou o suor embaixo do nariz e sussurrou, sem conseguir evitar o sorriso quase nervoso que lhe fugia dos lábios:
– Amo. Como nunca amei ninguém.
O revólver prateado inebriava os olhos de Alfredo. Ele ergueu as vistas em direção a Laura e sorriu. Girou o tambor do Colt 38 com a ponta dos dedos e disse com a objetividade que lhe era peculiar:
– Não acredito em você.
Blogueiro Fenômeno - Dante Accioly
Blog - Página em Construção
5 comentários:
Uh!
Nem sabia desse desafio, andei (muito) desanimada dessa vida de internet e de blog... Huahauhauuha
Mas estou de volta!
E parabéns pela iniciativa do desafio! Os dois textos postados até agora são muito bons!
Esse ai então, muito legal.
Beijuuus
Muiiito bom!
Tadinho do alfredo!
bjos
Muito bom messsssmo!!!! o texto vai deixando a gente agoniado! adorei!!!!
dante escreve uma barbaridade!!!
bjs, pessoas
Hello, Fenômenos!!!!! Eu tava numa ansiedade só! Que bom que vocês gostaram do texto! Muito massa a iniciativa de vocês! Um beijo grande e até os próximos desafios!!!!!!!
cruel
outstanding
o maximo
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